segunda-feira, maio 30, 2005

Anúncio 7

O Defensor Diário, 12 de Setembro de 1848

Vai sahir á luz a traducção da novella historica original hespanhola de D. Weneslau Ajgnals de Izco, intitulada – Maria, a filha de um jornaleiro, precedida de introdução por M. Eugene Sue.
Já se acham distribuidos prospectos para esta publicação, constará dois volumes, cuja primeira entrega sahirá no fim do corrente mez, sendo illustradas as principaes passagens do romance com estampas litographadas no gosto de um que já vem no prospecto.

domingo, maio 29, 2005

Leitura e Consumo VI

O estudo da dinâmica da Biblioteca, analisando a constituição e alargamento do se espólio, bem como as escolhas dos leitores, poderá nos fornecer importantes informações sobre a recepção e consumo do livro no século XIX. Aqui a componente fornecida pelos dados do registo do Depósito Legal é-nos fundamental para traçar um quadro do mercado editorial, no que concerne aos títulos e géneros publicados, mas a componente das prioridades das aquisições e das exigências dos leitores permitem-nos aceder a um ponto de observação priveligiado sobre a penetração das novas correntes estéticas na sociedade portuense. Contudo não estamos perante uma fonte definitiva.

sábado, maio 28, 2005

Madonna Alba (Rafael, 1513)

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sexta-feira, maio 27, 2005

Leitura e Consumo V

Como se vê, o cuidado posto na gestão dos fundos faz-se sempre no sentido de refrescar a oferta com aquisição de obras modernas, procurando satisfazer uma procura que, pelo número de leitores registado e pelas preferências por si expressas, devia ser bastante activa. Sabemos que, apesar da entrada de livros garantida pela Lei do Depósito Legal, por si só poderia preencher as necessidades da instituição (por exemplo: só em 1864 deram entrada por essa via 364 volumes vindos de Lisboa, aos quais se juntaram 81 do Porto e 50 de Coimbra), esta não se coibe em receber doacções de particulares (no mesmo ano: 62 volumes) e de comprar obras estrangeiras, preferencialmente francesas (49 volumes).

quinta-feira, maio 26, 2005

Anúncio 6

O Jornal do Povo, 29 de Março de 1851

Tres Homens esforçados.

Sahiu á luz o 2º volume da traducção deste lindo romance de Alexandre Dumas-filho. Os Tres homens esforçados não pertencem a essa prodigiosa nomenclatura da escola romantica exagerada; é um romance moral e que mostra um talento transcendente do auctor.
Quanto á traducção esforçamo-nos para que fosse o mais fiel e portuguez possivel.
Vende-se por 360 rs. no escriptorio do ECCO POPULAR e na rua dos Caldeireiros nº10; em Lisboa na loja de livros de Lavado, rua Augusta nº8; em Coimbra, em casa de José de Mesquita; em Braga, no botequim de Bento José Gomes; em Guimarães, em casa da viuva Salgado, em Vianna, em casa de André Joaquim Pereira; em Villa Nova de Famalicão, em casa do negociante Amaral; em Lamego, na loja de livros de José Cardoso; em Vizeu na de Dionizio de Souza Loureiro.

quarta-feira, maio 25, 2005

Leitura e Consumo IV

Esta última questão, a da localização periférica da biblioteca parece ser uma preocupação relevante porque várias vezes a ela se faz alusão, contudo se a Biblioteca realmente se encontrava demasiado afastada da cidade, então isso só vem evidenciar a sua importância cultural porque o seu isolamento não aparenta ter desmotivado os leitores. Mas o que nos interessa de imediato é a questão da necessidade da aquisição de obras modernas de forma a cativar a procura dos leitores, o que é bem reflexo de um novo conceito de livro e até de biblioteca: o uso intensivo do livro vai perdendo terreno para o uso extensivo e lúdico do mesmo. Em 1862 esta preocupação com a renovação dos fundos continua patente nos relatórios:

«...consta que estava concluído o 3.º salão grande da Bibliotheca, e fôra logo guarnecido de estantes competentes, e collocadas nelas cêrca de 20000 volumes, que estavão obstruindo os corredores internos do edificio.»
«Esta collocação permitio a escolha de obras duplicadas, disponiveis para trocas e outras transacções tendentes a preencher as lacunas da Bibliotheca, no tocante a obras modernas.»

terça-feira, maio 24, 2005

Anúncio 5

O Jornal do Povo, 20 de Julho de 1850

TRES HOMENS ESFORÇADOS
ROMANCE
POR
A. Dumas – filho.

Este interessante romance, que tanta voga obteve em França, vai brevemente sahir á luz. Escusado é dizer que procuraremos esmerar-nos o mais possivel na traducção.
A publicação será feita ás folhas como mais conveniente para os snrs. assignantes . – cada folha, paga no acto da entrega 200 rs. – volume brochado 300 rs.

segunda-feira, maio 23, 2005

Leitura e Consumo III

As escolhas dos leitores são claras, o que eles procuram de preferência são as obras literárias e suspeitamos que dentro destas os romances modernos. A propósito do relatório do ano de 1861, no qual se registou o acesso de 2605 leitores, o relator faz o seguinte comentário:

«He de crêr que augmente o número de leitores, à proporção que a Bibliotheca adquira obra moderna e subirá de ponte, se vier a ser collocada no centro da cidade do Porto.»

domingo, maio 22, 2005

S. Nicolau de Tolentino (Piero della Francesca, 1469)

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sábado, maio 21, 2005

Leitura e Consumo II

A importância da Biblioteca para a vida cultural parece ter sido essencial, caracterizando-se por uma afluência relativamente intensa se tivermos em consideração os parametros de literacia e culturais de então. No ano lectivo de 1848/1849 recorreram aos seus serviços de leitura cerca de 2013 leitores, no ano lectivo de 1857/1858 registaram-se 2697 leitores e a partir de 1861 a subida do número de leitores é vertiginosa: no ano lectivo de 1861/62 – 3629 leitores; no ano de 1862/1863 – 4276 leitores; 1863/1864 – 6003 leitores[1]. Ou seja, entre o ano de 1848 e o ano de 1863 houve um aumento de quase 300% do número de utentes da Biblioteca Pública do Porto. E o que liam? O relatório do biénio 1857/1858 descreve deste modo as preferências dos leitores: as obras mais procuradas são as de Literatura (inclui autores latinos) – 1293 obras consultadas. Seguem-se por ordem decrescente as seguintes preferências: História e Viagens – 555; Ciências Naturais – 481; Ciências Matemáticas – 354; Ciências Exactas – 252; Artes e Ofícios – 179; Jurisprudência – 104; Economia Política – 10. No bienio de 1861/1862 a ordem de preferências registada é mais minunciosa porque já faz a distribuição do número de leitores pelo número de obras requisitadas, que é a seguinte[2]:

Literatura, Poligrafia e autores latinos-------1819 leitores consultaram 2020 obras;
História, Biografia e Viagens---------------------832 “ “ 938 “ ;
Teologia, História Sagrada e Ritos-------------266 “ “ 345 “ ;
Ciências Exactas------------------------------------242 “ “ 320 “ ;
Ciências Naturais------------------------------------178 “ “ 244 “ ;
Jurisprudência----------------------------------------139 “ “ 297 “ ;
Artes e Oficios------------------------------------------81 “ “ 140 “ ;
[1] NEVES, Álvaro – Apontamentos históricos sobre bibliotecas portuguesas; Lisboa, Academia Real de Ciências, 1914
[2] Idem, Ibidem

sexta-feira, maio 20, 2005

Leitura e Consumo I

A maior das dificuldades com a qual nos deparamos está não na falta de fontes, mas no seu número excessivo, pelo que também aqui, mais uma vez, teremos que fazer escolhas. A primeira das fontes que nos pareceu a mais óbvia encontramo-la no Catalogo da Real Bibliotheca Publica do Porto. Tudo apontava para que estivessemos perante documentação preciosa para a consecução dos nossos objectivos: a) em 1833 a lei do Depósito-Legal estende-se à Biblioteca Pública do Porto e em 1854 esta disposição é reforçada pela Portaria de 31 de Março a qual obriga, mais uma vez, todos os proprietários de tipografias do Reino a mandar para a Biblioteca do Porto, do mesmo modo que para a de Lisboa, um exemplar de todas as obras ou publicações de qualquer natureza, que nas ditas oficinas sejam impressas[1]; b) em 1841 a Biblioteca abre ao público em geral; c) a partir de 1859 começa a incorporar e a registar com regularidade obras; d) desde a sua abertura manteve a prática de aquisição continua de obras, não se limitando a gerir o fundo primitivo.

[1] RIBEIRO, José Silvestre – Historia dos estabelecimentos scientificos, literários e artisticos de Portugal nos soccessivos reinados da monarchia; Lisboa, Academia Real das Ciências, 1871-1914

quinta-feira, maio 19, 2005

Romantismo e livro-produto V

O romantismo marca um novo tipo de relação entre o autor e o leitor, em primeiro lugar, e em segundo lugar, uma mutação nas relações do autor com as estruturas de produção e distribuição do livro. Desenvolve-se um novo conceito de livro, o livro-objecto ou livro-produto, dado que não se trata aqui apenas de um aumento das tiragens e de uma distribuição mais rápida e ampla distribuição propiciadas por toda uma série de inovações tecnológicas, mas de uma nova ideia sobre o que é o livro. O significado social, económico e ideológico do livro terá que ser outro a partir do momento em que este se torna objecto de consumo, dessacralizado e vulgarizado, circulando por todos os escalões sociais. Do ponto de vista económico tornou-se numa área interessante que motivou investimentos e uma crescente profissionalização dos vários elemementos do circuito do livro, começando pelo caso – raro, é certo – do autor, mas também do livreiro[1] e do editor[2].

[1] A Viúva Moré ainda no início da segunda metade do século XIX vendia no seu estabelecimento toda a espécie de artigos (botas de borracha e casacos, por exemplo) a par dos livros, o que demonstra como a a especialização na venda exclusiva de livros é algo tardia.
[2] Ernesto Chardron é talvez o primeiro editor moderno na total acepção da palavra.

terça-feira, maio 17, 2005

Anúncio 4

O Defensor Diário, 22 de Maio 1848


OS SETE PECADOS MORTAES
A INVEJA.

Publicou-se o primeiro volume da traducção portugueza (no Porto) deste interessante romance de M. Eugene Sue, pelo traductor dos Mysterios de Paris, Acha-se à venda no Porto na loge de Cruz Coutinho aos Caldeireiros. Também se acha á venda em Villa Real em caza de Manoel Jozé da Rocha Guimarães, rua do Poço. – Em Braga em casa de Antonio Joaquim Vieira de Sá, no largo do Castello – Em Lamego, em caza de Antonio Tristão de Souza – Em Vizeu em caza de José d’Almeida Campos – Em Coimbra na loja de livros de José de Mesquita – Em Lisboa na rua Augusta n.ºs 8 e 194 – preço do volume 240.

St.ª Cecilia (Poussin, 1628)

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segunda-feira, maio 16, 2005

Romantismo e livro-produto IV

Aliás, o próprio Camilo terá sido um dos primeiros escritores profissionais, dado que vivia exclusivamente dos dividendos dos seus escritos. Ao longo da sua vida, produziu cerca de 90 títulos entre prosa e verso, os quais terão rendido uma média anual de 1636$000 réis, o equivalente, à época, ao vencimento anual do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça[1]. Quando o mecanismo de legitimação da obra implica esta dependência directa do autor-produtor relativamente ao leitor-consumidor, confere-se uma autonomia nunca antes vista da prática da escrita relativamente ao poder e ao estado, autonomia esta que culminará na ideologia da “arte pela arte”.

[1] GUEDES, Fernando – O Livro e a Leitura em Portugal. Subsídios para a sua história: séculos XVIII e XIX, Lisboa e S. Paulo, Editorial Verbo, 1987, p. 222

domingo, maio 15, 2005

Romantismo e livro-produto III

O Romantismo é, talvez, a primeira corrente estética que não direccionada em exclusivo para um público-alvo restrito como os intelectuais e os académicos, ou como a corte e o poder em geral. O seu público, que não precisa de ser iniciado nos códigos eruditos da literatura, é o vasto público urbano e minimamente instruido que vai desde o burguês abastado ao caixeiro, de ambos os géneros. Na verdade, é a primeira vez que uma corrente estética se legitima através do público, isto é, do mercado, e não pela crítica académica. Camilo Castelo Branco, sem qualquer tipo de acanhamento, reconhece-o no prefácio da novela A Doida do Candal:

«O melhor romancista em Portugal, por enquanto, há-de ser o que tiver mil leitores que lhe comprem o livro e o aplaudam contra dez que o leiam de graça e o critiquem em folhetim de 10 tostões.»

sábado, maio 14, 2005

Anúncio 3

O Jornal do Povo, 01 de Março de 1851


OS MYSTERIOS DE PARIZ.

POR EUGENIO SUE.
(EDIÇÃO ENRIQUECIDA COM ESTAMPAS.)

De todos os romances do fecundo Eugenio Sue, os dois, que mais enthusiasmo tem produzido, e com justiça, são o Judeo Errante, e Mysterios de Pariz.
Este ultimo principalmente pela belleza do seu enredo, pela novidade da sua acção acha-se traduzido em todas as linguas da Europa. Em Portugal já houveram quatro edições d’uns poucos de mil exemplares. Tal é o enthusiasmo que produzio em nosso paiz esta obra a mais sublime dos tempos modernos.
Condições de assignatura.
Cada volume custa 200 réis.
N.B. Ha tambem volumes, tendo cada um 5 estampas, sendo o preço destes 300 réis.
Chegaram os volumes até 7.º vende-se na Livraria de José Gonçalves da Silva Guimarães, rua dos Caldeireiros n. 9 e 10.

sexta-feira, maio 13, 2005

Entre os Professores (Polenov, 1896)

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quinta-feira, maio 12, 2005

Romantismo e livro-produto II

Não se pode dizer que toda a segunda metade de XIX seja marcada exclusivamente, em termos editoriais pelo Romantismo, mesmo que este se tenha prolongado até bastante tarde[1], mas o tempo do consumo e do gosto do público é muito mais lento do que o tempo das inovações estéticas, pelo que desse modo se justifica em parte a relevância desta estética no negócio do livro até ao fim do século. Esta premissa também justifica, em parte, o atraso na sua introdução na cultura portuguesa. O momento fundador do Romantismo português costuma ser identificado com a edição em 1825 do livro Camões de Garrett em... Paris. Até 1829 Garrett vai publicar as suas obras no exílio, entre Paris e Londres. Por cá, os editores continuavam a fornecer os leitores com títulos de obras setecentistas, a par de obras de pendor religioso e místico. Só por volta da década de 40 é que obras de matriz romântica começam a ser editadas por cá pelas editoras do próprio estado, Imprensa da Universidade (Coimbra) e Imprensa Nacional (Lisboa), que terão contribuído decisivamente para a introdução desta corrente entre nós ao publicarem autores pré-românticos e românticos como Marquesa de Alorna, Castilho, Herculano e Garrett, entre muitos outros. Somente em 1848 é que um editor privado parece ter adivinhado o potencial lucrativo destes autores, refiro-me a António Maria Pereira que vai construir uma casa editorial de renome em Lisboa, muito à custa dos títulos românticos de autores como Ayres Pinto de Sousa, Pinheiro Chagas e Camilo Castelo Branco.

[1] REIS, Carlos – História crítica da literatura portuguesa. Vol. V: O Romantismo; Lisboa, Verbo, 1999, 2ª edição, p. 37. REIS sugere uma génese do Romantismo na viragem do século com os pré-românticos, seguido do primeiro romantismo e pelo ultra-romantismo, culminando no romantismo social de Antero de Quental.

segunda-feira, maio 09, 2005

Romantismo e livro-produto I

O objecto de estudo a que nos propomos trabalhar, a edição do livro literário oitocentista, tem coordenadas espaciais e temporais muito precisas: o Porto na segunda metade do século XIX. Estas margens geo-cronológicas impõem-se pela própria natureza do objecto de estudo em questão. Falar do livro impresso no século XIX em Portugal é, inevitavelmente falar do Porto, que se assume como importante pólo produtor e consumidor do impresso. Mas é também falar do movimento do Romantismo, inscrito sobre o fundo ideológico da burguesia e com o caractér mais popular de todos os movimentos estéticos, encontrando nas inovações tecnológicas da tipografia um precioso aliado para formar um público.

Reflexão 5 (Jorge Luis Borges)

Os meus livros

Os meus livros (que não sabem que existo)
São uma parte de mim, como este rosto
De têmporas e olhos já cinzentos
Que em vão vou procurando nos espelhos
E que percorro com a minha mão côncava.
Não sem alguma lógica amargura
Entendo que as palavra essenciais,
As que me exprimem, estarão nessas folhas
Que não sabem quem sou, não nas que escrevo.
Mais vale assim. As vozes desses mortos
Dir-me-ão para sempre.

domingo, maio 08, 2005

Pierrot (Picasso, 1918)

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sábado, maio 07, 2005

Cadeia do Livro e Imprensa Periódica XV

Esta é uma pista que nos vemos obrigados a percorrer, a pista da imprensa periódica e o seu papel na consolidação de um circuito do texto literário, aqui o lugar do editor de livros confunde-se com o lugar do editor de jornal. Existe uma clara sobreposição de papéis e de funções. Sintoma de uma insipiente especialização do mercado cultural e sinal de uma “cadeia do livro” que ainda não conseguiu encerrar dentro de si o texto literário.

sexta-feira, maio 06, 2005

Cadeia do Livro e Imprensa Periódica XIV

Reproduzimos este extenso período porque concordamos em absoluto com tudo o que nele se diz, excepto no essencial. Esta oposição jornalismo / literatura, polémica eterna, é uma daquelas oposições que devem ser revistas. Não faltarão bons motivos para isso. Os autores são frequentemente os mesmos (vejamos o Eça ou o Herculano, por exemplo) e a influência do estilo jornalístico na literatura é, apesar das críticas, inquestionável. Isto a nível da produção intelectual, porque a nível da produção material (e aqui temos outra oposição que merece, no mínimo uma reflexão...) o imbricamento mútuo é de tal forma evidente que nem o Castilho nos convence de que o jornalismo substiuiu a livraria. O que aconteceu é que numa fase inicial da industrialização e capitalização da cultura a especialização ainda não estava de todo consumada. Era mais o que era compartilhado do que o que era apartado: as instalações tipográficas, as redes de difusão e distribuição (os livros saíam muitas vezes em fascículos periódicos que deviam ser levantados, se subscritos previamente, junto dos representantes ou das tipografias, processo em tudo similar ao dos periódicos), os activos e os investidores. O cúmulo desta comunhão de percursos ocorre em três circunstâncias: a) quando o proprietário do jornal edita obras literárias; b) quando as páginas dos periódicos acolhem os anúncios / prospectos de anúncio e recolha de assinaturas de obras literárias, que é um momento chave da distribuição do livro, sem a qual a obra nunca podería atingir tiragens tão elevadas; c) quando o próprio periódico acolhe nas suas próprias páginas obras segundo o formato do folhetim com ganhos mútuos para o autor e para o proprietário do jornal (e às vezes até para os leitores!) e aqui o agente editor não existe, pelo menos enquanto produtor do objecto livro.

quinta-feira, maio 05, 2005

Cadeia do Livro e Imprensa Periódica XIII

A posição acima apresentada não é pacífica. Não falta quem defenda justamento o contrário, como é o caso de António do Carmo Reis:

“Sublinhamos a lucidez do escritor António Feliciano de Castilho quando classificou de «popular» o século XIX por haver substituído o Jornalismo à Livraria uma instituição nova que toma o lugar de uma instituição velha – de forma a concluir que «os livros eram a muita ciência para poucos homens; os jornais são um pouco de ciência para todos,»
De facto, a abertura progressiva dos conhecimentos a estratos sociais cada vez mais vastos corre paralela com a trajectória da Imprensa, tanto ou mais que a via oficial da instrução. Logo porque, em termos de divulgação de saber, a noticia passa por veiculações que superam a alfabetização e até a dispensam. Efectivamente, o «manancial de ilustração» que é o periódico atinge os receptores com rapidez e eficácia que vai além do livro e nada tem a ver com normas de aparelho educativo: tem leitores e tem ouvintes, uns e outros fundamentalmente aptos para assimilarem o conteúdo da mensagem que aparece no texto novo, adequado e acessível. Na verdade, enquanto o livro mantinha, por regra, o seu estatuto tradicional de instrumento de cultura para minorias, individual ou limitado a um círculo de reduzida influência, o jornal traz consigo a vocação inata de informar a multidão.”
[1]

[1] REIS, António do Carmo – A Imprensa do Porto Romântico (1836-1850). Cartismo e Setembrismo, Lisboa, Livros do Horizonte, 1999, p. 49

quarta-feira, maio 04, 2005

Tarde de uma criança em Wargemont (Renoir, 1887)

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segunda-feira, maio 02, 2005

Reflexão 4 (Italo Calvino)

«Estamos em 1985: só quinze anos separam do início de um novo milénio. (...) O milénio que está prestes a terminar viu nascerem e expandirem-se as línguas modernas do Ocidente e as literaturas destas línguas que exploraram as possibilidades expressivas, cognitivas e imaginativas. Foi também o milénio do livro, dado que viu o objecto-livro tomar a forma que nos é familiar. Talvez o sinal de que o milénio está a encerrar-se seja a frequência com que nos interrogamos sobre a sorte da literatura e do livro na era tecnológica chamada pós-industrial. (...) A minha confiança no futuro da literatura consiste em saber que há coisas que só a literatura com os seus meios específicos pode dar-nos.»

Calvino, Italo – Seis propostas para o próximo milénio (Lições americanas), Lisboa, Teorema, 1994 (2.ª edição), p12

domingo, maio 01, 2005

Cadeia do Livro e Imprensa Periódica XII

De volta ao Porto, notámos que a edição popular tipicamente romântica teve uma proeminência notável na segunda metade do século XIX. E que essa edição se terá desenvolvido por caminhos que se cruzaram com os caminhos da imprensa periódica. Aliás, este caminho não é exclusivo do Porto ou do país, inscrevendo-se, pelo contrário, num movimento mais vasto de emergência de mercado cultural de massa, que consistiu na apropriação por parte dos representantes da cultura dominante e das empresas editoriais modernas do lugar da cultura popular da oralidade, das folhas volantes e da literatura de colportage. A cultura de massas é a pouco e pouco tomada pelas empresas capitalistas, ou seja, editores especializados em livros populares e jornais a baixo preço[1]. Esta perspectiva supõe uma aliança entre o agente editor e um elemento que à partida não figura na “cadeia do livro”, que é o periódico, de tal forma que a história de ambos se confundem.

[1] CHARLE, Christophe – Les Intellectuels en Europe au XIXe Siècle. Essai d’histoire comparée, Paris, Éditions du Seuil, 1996, p. 159