Romantismo e livro-produto II
Não se pode dizer que toda a segunda metade de XIX seja marcada exclusivamente, em termos editoriais pelo Romantismo, mesmo que este se tenha prolongado até bastante tarde[1], mas o tempo do consumo e do gosto do público é muito mais lento do que o tempo das inovações estéticas, pelo que desse modo se justifica em parte a relevância desta estética no negócio do livro até ao fim do século. Esta premissa também justifica, em parte, o atraso na sua introdução na cultura portuguesa. O momento fundador do Romantismo português costuma ser identificado com a edição em 1825 do livro Camões de Garrett em... Paris. Até 1829 Garrett vai publicar as suas obras no exílio, entre Paris e Londres. Por cá, os editores continuavam a fornecer os leitores com títulos de obras setecentistas, a par de obras de pendor religioso e místico. Só por volta da década de 40 é que obras de matriz romântica começam a ser editadas por cá pelas editoras do próprio estado, Imprensa da Universidade (Coimbra) e Imprensa Nacional (Lisboa), que terão contribuído decisivamente para a introdução desta corrente entre nós ao publicarem autores pré-românticos e românticos como Marquesa de Alorna, Castilho, Herculano e Garrett, entre muitos outros. Somente em 1848 é que um editor privado parece ter adivinhado o potencial lucrativo destes autores, refiro-me a António Maria Pereira que vai construir uma casa editorial de renome em Lisboa, muito à custa dos títulos românticos de autores como Ayres Pinto de Sousa, Pinheiro Chagas e Camilo Castelo Branco.
[1] REIS, Carlos – História crítica da literatura portuguesa. Vol. V: O Romantismo; Lisboa, Verbo, 1999, 2ª edição, p. 37. REIS sugere uma génese do Romantismo na viragem do século com os pré-românticos, seguido do primeiro romantismo e pelo ultra-romantismo, culminando no romantismo social de Antero de Quental.
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