sexta-feira, maio 06, 2005

Cadeia do Livro e Imprensa Periódica XIV

Reproduzimos este extenso período porque concordamos em absoluto com tudo o que nele se diz, excepto no essencial. Esta oposição jornalismo / literatura, polémica eterna, é uma daquelas oposições que devem ser revistas. Não faltarão bons motivos para isso. Os autores são frequentemente os mesmos (vejamos o Eça ou o Herculano, por exemplo) e a influência do estilo jornalístico na literatura é, apesar das críticas, inquestionável. Isto a nível da produção intelectual, porque a nível da produção material (e aqui temos outra oposição que merece, no mínimo uma reflexão...) o imbricamento mútuo é de tal forma evidente que nem o Castilho nos convence de que o jornalismo substiuiu a livraria. O que aconteceu é que numa fase inicial da industrialização e capitalização da cultura a especialização ainda não estava de todo consumada. Era mais o que era compartilhado do que o que era apartado: as instalações tipográficas, as redes de difusão e distribuição (os livros saíam muitas vezes em fascículos periódicos que deviam ser levantados, se subscritos previamente, junto dos representantes ou das tipografias, processo em tudo similar ao dos periódicos), os activos e os investidores. O cúmulo desta comunhão de percursos ocorre em três circunstâncias: a) quando o proprietário do jornal edita obras literárias; b) quando as páginas dos periódicos acolhem os anúncios / prospectos de anúncio e recolha de assinaturas de obras literárias, que é um momento chave da distribuição do livro, sem a qual a obra nunca podería atingir tiragens tão elevadas; c) quando o próprio periódico acolhe nas suas próprias páginas obras segundo o formato do folhetim com ganhos mútuos para o autor e para o proprietário do jornal (e às vezes até para os leitores!) e aqui o agente editor não existe, pelo menos enquanto produtor do objecto livro.