segunda-feira, maio 16, 2005

Romantismo e livro-produto IV

Aliás, o próprio Camilo terá sido um dos primeiros escritores profissionais, dado que vivia exclusivamente dos dividendos dos seus escritos. Ao longo da sua vida, produziu cerca de 90 títulos entre prosa e verso, os quais terão rendido uma média anual de 1636$000 réis, o equivalente, à época, ao vencimento anual do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça[1]. Quando o mecanismo de legitimação da obra implica esta dependência directa do autor-produtor relativamente ao leitor-consumidor, confere-se uma autonomia nunca antes vista da prática da escrita relativamente ao poder e ao estado, autonomia esta que culminará na ideologia da “arte pela arte”.

[1] GUEDES, Fernando – O Livro e a Leitura em Portugal. Subsídios para a sua história: séculos XVIII e XIX, Lisboa e S. Paulo, Editorial Verbo, 1987, p. 222