Cadeia do Livro e Imprensa Periódica IX
Creio que a solução possível para ultrapassar estas dificuldades será a de partirmos do pressuposto de que o universo de consumidores é socialmente heterogéneo, não se ficando apenas pelas classes altas e instruídas e que em virtude disso o universo editorial e literário também será, por sua vez, heterogéneo. Na monumental obra Histoire de l’Édition Française, dirigida por Roger Chartier e Henri-Jean Martin este pressuposto é aplicado[1] resultando daí que tivessem sido distinguidos três níveis de público, aos quais correspondem três esferas editoriais. Em primeiro lugar, temos a esfera académica que comporta a literatura tradicional, que ocupa o topo da hierarquia em termos de reconhecimento social e académico, tem um número considerável de leitores que consomem os grandes géneros: poesia, teatro sério, romance psicológico ou mundano, e estes leitores são pouco tolerantes com a inovação. No lado oposto, temos a literatura avant-guard que se dirige a outros escritores e a outros letrados que constituem um universo bastante restrito, e esta esfera diverge dos procedimentos académicos e clássicos de consagração, pelo seu aspecto inovador e por não conseguir penetrar na edição industrializada, desenvolvendo, por isso, estratégias alternativas de divulgação que constituem por si um novo circuito: pequenas revistas, ciclos e salões para iniciados, banquetes e comemorações, recitações públicas, subscrições e fundação das suas próprias casas editoriais. Por último, entre estes dois extremos, ficam a maioria dos autores e respectivos editores que pretendem atingir o grande público, o público popular. É o território dos romances-folhetins publicados em jornais.
[1] CHARTIER, Roger e MARTIN, Henri-Jean (Dir.) – Histoire de l’Édition Française. Tome III, Le temps des éditeurs. Du Romantisme à la Belle Époque, Paris, Promodis, 1985, pp. 132 e 135
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