Cadeia do Livro e Imprensa Periódica V
Não podemos, no entanto, ignorar a mais elementar das verdades da economia: sem consumidores, não há mercado. A abordagem ao primeiro elo da cadeia deverá começar pelo elo final. O espaço/tempo em que a nossa investigação se movimentará é a Cidade do Porto na segunda metade do século XIX. O Porto chega até à década de 90 do século XX com um impressionante conjunto de livrarias e editoras, algumas com expressão nacional. Esta (boa) relação da cidade com o livro parece ter tido um antecedente importante no século anterior. Vários livreiros estão referenciados e alguns editores são ilustres conhecidos não só no Porto, como também em Lisboa e resto do país. E não me parece necessário recordar aqui as figuras de primeiro plano da história da literatura que a cidade foi produzindo nessa época. O que me atraiu a atenção foi a curiosa circunstância de o Porto, à partida, não parecer manifestar as melhores condições para fazer despertar e sustentar um mercado livreiro. O grande centro político, à volta do qual a cultura tendencialmente gravita, é Lisboa, o centro académico é Coimbra, o centro religioso é Braga. Porto não é dotado de grandes elites políticas e culturais, não possui uma Universidade (só em 1825 é que é criada a Escola Médico-Cirurgica e em 1836 a Academia das Bellas-Artes; Coimbra vai continuar ainda por muitas décadas como principal destino dos estudantes portugueses), nem sede de arcebispado. Tudo circunstâncias que ajudariam a explicar a produção e circulação do livro. E, no entanto, ela existe.
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