Cadeia do Livro e Imprensa Periódica VI
Acredito que a existência de uma burguesia forte, que tornou o Porto conhecido como cidade de trabalho e de comércio, poderá estar relacionada com a existência de um mercado do livro nessa cidade. É natural que constituissem os burgueses o mercado de consumo do bem em causa. Assim, pensava eu, sem qualquer cautela de maior, até ter deparado com as investigações de Maria Antonieta Cruz[1] em torno dos burgueses do Porto nesse período. Alguns dados por ela compilados e tratados revelam indícios de que a situação era mais complexa do que estaria inicialmente à espera. Assim, verificou-se as habilitações literárias dos eleitores portuenses (chefes de familia que sabiam ler e escrever) eram em 1847 as seguintes: nula – 15.4%; Primária – 70.1%; Secundária – 9.6%; Superior – 4.7%[2]. Ora, tão baixas qualificações não são compatíveis com o perfil de um consumidor de livros. Ponderou-se, de seguida, a possibilidade de a minoria dotada de habilitações literárias mais elevadas, ser possuidora, em simultâneo, de riqueza, de tal modo que da acumulação feliz de riqueza e formação académica nos levasse a uma elite altamente consumidora do objecto livro. Mas os dados parece que contrariaram em definitivo esta expectativa, a ponto de M. Cruz ter considerado que «Fica comprovado, ao que pensamos, que não existia na segunda metade do século XIX, na cidade do Porto, uma relação directa entre abastança e escolaridade,...»[3].
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