Os Prospectos 2

Acho muita piada a este. Refere-se ao O Lidador* e dá-nos bem a ideia de como estaria saturado o mercado dos periódicos na cidade do Porto.

PROSPECTO

«Um novo jornal politico! Não se amofine o leitor benevolo; rogamo-lh’o por Deus.
Ha ahi nesse lidar incessante de typographos, n’esse cruzar de entregadores, n’essas malas pejadas de periodicos para todas as provincias, uma verdade sublime, que caracterisa de um modo bem significativo a revolição civilisadora, que se opéra em Portugal. Graças ao espirito da epocha, ou antes á dedicação cívica, e á intelligencia que o creou, e lhe deu desenvolvimento n’esta terra!
Ninguém se enfade com o apparecimento de publicações jornalisticas em todos os angulos do paiz: revela-se ahi uma verdade da maior importancia, para a causa publica; já o dissemos. É a razão que triumpha contra a materia! São as luctas da intelligencia, que succedem aos combates da força bruta!
Deixem surgir os periodicos, que são uma necessidade da energia do espirito, que caminha a passo largo na estrada do progresso. Louvemos a providencia!
Fazendo estas ponderações, não duvidamos de que o publico receberá com benevolencia o annuncio, que lhe apresentamos – de que vae publicar-se – O LIDADOR – jornal diario, politico, litterario e commercial.
A empreza assegura que se não poupará a fadigas e sacrificios, para merecer do publico imparcial a protecção e favor.
Preços de assignatura:
Porto Provincias
Mes------------480-----600 com estampilha
Trimestre----1440---1800 com estampilha
Semestre----2830---3600 com estampilha
Ano-----------5760---7200 com estampilha
Avulso---20»

*Herdeiro das assinaturas do O Jornal do Povo

(in O Lidador, nº1 de 1 de Agosto de 1854)

Os Prospectos

Sempre senti um carinho especial pelos prospectos das novas impressões periódicas. São muitas das vezes um misto de manifesto, de programa, de publicidade, de portfólio de colaboradores e editores responsáveis, de informação das condições de assinatura e de roteiro de estabelecimentos associados. Enfim, onde o ideológico, o circunstancial e as condições de materiais de misturam. São, portanto, documentos muito ricos. Informam mais do que sonhariam os seus autores.

«CORREIO DO NORTE,
JORNAL DOS DOMINGOS

«O gosto da leitura, e a avidez de saber o que vae por este mundo de christo, está tam vulgarisado, que se torna muito sensivelo a falta de um jornal que aos domingos e dias sanctificados – ponha os curiosos ao facto do que se passa.
Para preencher esta lacuna deliberamos publicar o Correio do Norte, que, sem deixar de se occupar dos acontecimentos locaes, a sua principal missão é dar noticias tanto nacionaes como extrangeiras, chegadas nos dias em que n’esta cidade se não costumam publicar folhas: isto em todos os dias sanctificados.
O Comercio do Norte tambem dará supplemento todas as vezes que o paquete não chegar a horas das noticias vindas por elle poderem ser publicadas nas folhas diarias. O Comercio fará todo o possivel por ser um jornal curioso, e informar os seus leitores muito minunciosamente das noticias chegadas no dia da sua publicação.
O Comercio será distribuido de manhã.
Custa – por anno 1$600 reis, por semestre 960 reis, por trimestre 480 reis.»

(in O Lidador, 04 de Setembro de 1854)

Disputa (Raphael, 1511)

O Bazar (Anúncios 21 e 22)

Quando falamos em livrarias no século XIX será conveniente não imaginarmos uma loja apenas de livros. Mesmo em meados do oitocentos, as «livrarias» ou «lojas de livros», pelo menos no Porto, assemelhavam-se a bazares, onde tudo de vendia à mistura com os livros. E quando digo tudo é literalmente TUDO! Os anúncios na imprensa periódica fazem lembrar as enumerações caóticas de Borges. Vale a pena dar uma vista de olhos em dois exemplos de duas das maiores casas da «especialidade» na cidade do Porto: Moré e Livraria Francesa e Nacional:

O Lidador, 28 de Novembro de 1854

«LIVRARIA FRANCEZA E NACIONAL,
PRAÇA DE D. PEDRO N.º 76
(Detraz da Fonte).

Recebeu pelos ultimos navios chegados de França: Álerta, Edalina e Sacramento, um grande numero de livros escholasticos, classicos, scientificos e litterarios; livros de piedade e de missa ricamente encadernados, desde 480, ate 19$200. – um bello sortimento de quincalherias finas; - estampas, e modelos de desenhos para todos os generos, riscos para bordar a tapeçaria (petit point), a matiz e a branco; mappas geographicos com especialidade do theatro de guerra comprehendendo o mar Negro e o Baltico, ou especiaes para a Crimea, com uma planta de Sebastopol sobre panos com rolos; dobrados para viagem ou singelos; - fornecimentos de escriptorios, prensas e registos de copiar cartas instantaneamente; - instrumentos de mathematicas, optica e cirurgia, oculos de theatro, de punho e gazometros; - Fornecimento de daguerreotypo; - tintas a oleo e outras, pinceis e panos para pintores; Objectos de arte religiosos e profanos, imitando marfim; - brincos para creanças; - Jogos de dominó, xadrez, damas, etc., saccos de viagem armas de caça de um ou dous canos, pistolas, estearina, vinho de champagne; - um grande sortimento de musica e methodos para pianno e outros instrumentos; - uma grande porção de almanaks francezes: Lunatique, Tintamare, la fille laborieuse, Fleurs, la mére Gigogne, prophétique, pour rire, astrologuique, du jardinier, des ménageres, comique, chimique, Magasin pittoresque, musical, la Bonne société, la politesse, Mr. de curé, trésor des recettes, les célébrités contemporaines, de la Santé, Magnétique, culinaire, polichinelle, jeaux de société, des enfants, le sécrétaire français, perpétuel, des gasconades, du Bon ton, de l’illustration, etc. etc. etc.
Instrumentos de musica, harmonicas, concertinas, harpas de Erard, Blaicher e Nadermann, piannos francezes de modelos modernos e muito elegantes de 7 oit. e de 3 cordas a cada nota de G. Daniele e Eug. Moullé, authores muito distinctos. Preços muito moderados.»

O Lidador, 04 de Dezembro de 1854

MORÉ & C.ª
PORTO E COIMBRA.

Acabam de receber pelos vapores Isabel e Bretagne, um grande sortimento de quinquilherias francezas, entre as quaes receberam uma collecção d’estampas, estojos de cirurgia e de mathematica, curvas, esquadrias, lapizeiras e caixas de tintas para desenho de superiores qualidades, puchadores de christal, caleches para crianças, lanternas maritimas para escadas, e quartos de dormir, aranhas designando os destinos, espanadores de pennas, uma linda collecção de bengallas, com lindos cabos, pennas d’aço de superior qualidade, espelhos para barba, e estojos completos, bombas para regar jardins de novo systema, aumonieres (saccos portateis de viagem), espelhos de bocca, thermometros, canecas de fayance com tampas, caixas de sardinhas preparadas por um novo systema, diversos vasos de vidro imitando louça da India, balanças grandes, e pequenas de pesar dinheiro e cartas, lindas cartas de cartonagem guarnecidas com papel, pentes de cabello, pulverinhos, seccos e mais utensilios para caça, armas e pistolas, prensas de copiar cartas, e livros para copias, papel d’escrever francez e inglez, livros em branco, globos terrestres, uma linda collecção de albuns, de 360 a 20:000 reis, lampeões para salas, uma linda collecção de quadros com diversos assumptos imitando marfim, escovas para fato, cabello, e dentes, cachimbos para fumar, caixas de rapé de massa, bufalo, e tartaruga, seringas de nova invenção, carteiras para papeis, e lembranças, vinho de champagne, garrafa a 1:200, meia garrafa 600 reis, conservas de diversas qualidades, doce de calda, mostarda de Diaphane de superior qualidade, etc. etc., que vendem por preços commodos.»

E livros?

Anúncio 20

O Defensor Diário, 03 de Junho de 1848

Publicou-se – A BOMBARDA – escripto politico. Contém o seguinte: - A Cousa está na forja – para quem os conheceu larangeiras, não val fingirem se de santos – Que posição devem tomar os legitimistas portuguezes? – Tão bons são uns como os outros (conclusão).Vende-se nos livreiros Fonseca aos Caldeireiros; Ignacio Correia em Bellomonte; e Santos, travessa da fabrica do Tabaco. Preço – 20 reis.

Reflexão 9 (Michel de Certeau*)

«Longe de serem escritores, fundadores de um lugar próprio, herdeiros dos lavradores de outros tempos mas no solo da linguagem, cavadores de poços e construtores de casas, os leitores são viajantes; andam pelas terras dos outros, nómadas caçando furtivamente através dos campos que não escreveram, arrebatando as riquezas do Egipto para as desfrutarem. A escrita acumula, armazena, resiste ao tempo estabelecendo um lugar e multiplica a sua produção através do expansionismo da reprodução. A leitura não é garantida com o desgaste do tempo (esquecemo-nos e esquecemo-la, não conserva ou conserva mal o seu saber, e cada um dos lugares por onde passa é a repetição do paraíso perdido.»

*citado por: Roger Chartier, A ordem dos livros, Lisboa, Vega Editora, 1997

Fontes: Livro dos Proprietarios das Typographias e Lytographias (1834-1866): XXV

Fontes: Livro dos Proprietarios das Typographias e Lytographias (1834-1866): XXIII e XXIV

Fontes: Livro dos Proprietarios das Typographias e Lytographias (1834-1866): XXI e XXII

Fontes: Livro dos Proprietarios das Typographias e Lytographias (1834-1866): XIX e XX

Fontes: Livro dos Proprietarios das Typographias e Lytographias (1834-1866): XVII e XVIII

Fontes: Livro dos Proprietarios das Typographias e Lytographias (1834-1866): XV e XVI

Fontes: Livro dos Proprietarios das Typographias e Lytographias (1834-1866): XI a XIV

Fontes: Livro dos Proprietarios das Typographias e Lytographias (1834-1866): VII a X

Fontes: Livro dos Proprietarios das Typographias e Lytographias (1834-1866): V e VI

Fontes: Livro dos Proprietarios das Typographias e Lytographias (1834-1866): IV

Fontes: Livro dos Proprietarios das Typographias e Lytographias (1834-1866): III

Fontes: Livro dos Proprietarios das Typographias e Lytographias (1834-1866): II

Fontes: Livro dos Proprietarios das Typographias e Lytographias (1834-1866)

Anúncio 19

O Jornal do Povo, 13 de Maio de 1851

INSPIRAÇÕES.
Por Camillo Castello Branco.

Preço 300 rs. – um folheto de 140 paginas impressão em bom papel, e bom typo. Acha-se á venda n’esta cidade em todas as lojas de livros.