Tivemos o pensamento de crear, na segunda cidade do reino, um jornal de litteratura. É arriscado agenciar leitores aqui, onde são nove os jornaes políticos, e a politica do jornal derrama um imposto já de si bem pesado aos contribuintes. Mas não está ainda resolvido se o Porto abomina os jornaes litterarios, por não tractarem de politica. Nós duvidamos que a iguaria predilecta dos portuenses seja a argumentação indigesta dos partidos; parece-nos mesmo que os mais empenhados na lucta de um principio contra outro devem ter momentos de enfado em que um litteratura amêna lhes viria desalterar a sede do deleite espiritual.
O nosso jornal virá, pois, pacifico e humilde, na rectaguarda dos nove jornaes politicos, offerecer o seu pouco. O HORISONTE não se inculca como cousa necessaria para o andamento da civilisação, ou gloria das lettras do Porto. sabemos que se vive sem jornais, e sem livros, á regalada, e que, nos nossos dias de industria, e de estradas, o homem o que deseja é alargar a área dos gosos do corpo, e, quando muito, nas horas d’ocio provar com o espirito alguma pagina de romance, que se dirigira facilmente, e não force o pensamento a elaboral-a.
O nosso jornal será isso que se deseja. A sciencia profunda será banida das suas columnas como os rhetoricos de Athenas. A erudição é uma cousa impertinente, como o saber fradesco dos avultosos bacamartes, que dormem o somno do justo nas bibliothecas, sem que ninguem os acorde.
O HORISONTE será, portanto, superficial em toda a extensão da palavra. Não forçará o entendimento nem a memoria de ninguem. Não obrigará o leitor menos versado na lingua a incommodar o vocabulario de Moraes, nem o diccionario historico de Bouillet.
Queremos que o nosso jornal faça rir, com tanto que não seja de piedade dos redactores.
O mais delle será romance copiado da vida real da sociedade em que somos gente; e desliado das cousas que passaram, dos costumanças que não interessam o presente, das eruditas investigações de outros tempos e costumes, que dão muita canceira ao escriptor, e apoquentam a paciencia do leitor.
Dará uma revista do Porto, abrangendo quinze dias, por isso que o 1.º e 15 de cada mez serão os dias fixos da sua publicação.
Avaliará as producções contemporaneas n’uma serie de artigos denominados «reputações litterarias» que o author annunciara em livro. Nesta parte, o jornal não fará rir todos os leitores, porque é necessario que chore alguem. Muita gente porque a consciencia o engana. É preciso convencer esses taes de que o silencio da opinião publica não é um placido assentimento ás suas cousas. Nesta parte cumpriremos o mandato do senso-commum, de que nos declaramos desde já officiosos representantes.
Publicará poesias de casa e de fóra; mas as de fóra é precioso que venham muito recommendadas pelo nome de seus paes. Más poesias, apenas são admittidas as dos redactores.
Tencionamos pedir ás illustrações uma esmola para a creança, que nascerá em abril; se a conseguirmos, alarga-se o horisonte dos leitores, se não, hão-de viver na estreiteza do nosso.
Convem saber que o BARDO, jornal de poesias, vae ser identificado no HORISONTE, É preciso que o poeta seja absorvido no prosador, porque está provado que o poeta não vive independente de prosa.
Como dissemos, publica-se duas vezes no mez, com 16 paginas, em quarto grande. Quando o podermos fazer, sem prejuizo, daremos gravuras; mas as gravuras neste paiz são caras de mais para a parcimonia de leitores.
As assignaturas recebem-se no Porto, no escriptorio, rua das Flores n.º37. Não temos agentes de provincea, não satisfaremos a assignaturas que não sejam previamente pagas no escriptorio.
A assignatura é 2$400 reis pagos em tres prestações adiantadas.
No 1.º de abril deve sahir o primeiro numero.
Os Redactores,
Camillo Castello Branco.
Faustino Xavier de Novaes.
COLABORADORES.
Antonio Pedro Lopes de Mendonça. – José Gregorio Lopes da Camara Sinval. Pedro de Amorim Vianna. – José Barbosa e Silva. – Antonio Augusto Soares dos Passos. – Rodrigo Xavier Pereira Freitas e Beça. Guilhermino Augusto de Barros. – Antonio Coelho Louzada. – Antonio Moraes da Silva.»