segunda-feira, junho 06, 2005

Leitura e Consumo IX

Privilegia-se a literatura académica de forma a satisfazer as necessidades dos «estudiosos» e a literatura clássica em detrimento da literatura popular, o canone resiste. Quanto muito permite-se a literatura instrutiva e de indole prática, demonstrando assim que a instituição está receptiva às necessidades dos novos tempos. A outra razão é de índole objectiva e até material. É que a literatura romântica circulava, em grande parte, em suportes de carácter efémero como edições de muito fraca qualidade material, degradando-se com facilidade, que contrasta com o cuidado posto nas obras setecentistas ou nas obras cientificas e clássicas. Por outro lado, os romances apareciam muitas vezes na imprensa periódica (que vai desempenhar um papel nuclear na edição romântica) sob a forma de folhetim que nem sempre chegava a existir sob a forma de livro ou ainda era comercializado sob a forma de fascículos e não de volumes pelo que não se vê como poderiam ser adequiridos pelos serviços da Real Bibliotheca. Concluindo, os catálogos da Real Bibliotheca Publica do Porto podem ser de grande utilidade na compreensão do fenómeno da edição novecentista, nomeadamente em aspectos ligados à recepção da nova estética literária e editorial por parte das instituições, desde que não se perca de vista as suas lacunas e fragilidades.