Leitura e Consumo VIII
Estas considerações são feitas já no final do século, mais de cinquenta anos depois da lei que estende o depósito-legal à cidade do Porto! Daqui inferimos que no que diz respeito às edições contemporâneas, o catálogo não pode ser representativo da totalidade do universo editorial, dado que o fundo não é devidamente alimentado por incumprimento da lei por parte das tipografias. Para além desta circunstância, outros dois factores podem ter concorrido para a fragilidade do catálogo na secção da literatura produzida nesta segunda metade do século. O primeiro é da ordem do gosto e dos valores. Não nos surpreende que a novela e o romance popular fossem vistos como um género menor e até não literário, sem dignidade, portanto, para merecer a atenção do bibliotecário. Encontrámos esta atitude de desvalorização reflectida na própria elaboração do Catálogo do Romances, no qual se registou apenas o nome do autor e o título da obra, omitindo dados tão fundamentais como o lugar e data de edição e o editor. De resto, as prioridades de aquisição de obras são claramente definidas no sentido de valorizar outro tipo de produção literária:
«Compraram-se: 1º) As obras que haviam sido reclamadas com reiteradas instancias pelos estudiosos que frequentam a bibliotheca; 2º) As obras classicas de litteratura ou de sciencia que ella ainda não possuia; 3º) Grande numero d’obras escolhidas nas differentes secções de bibliographia para animar e facilitar entre nós os estudos práticos.»[1].
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