A Cidade e o Livro II
A historia do livro é eminentemente uma história urbana, não apenas por causa da concentração demográfica e de riqueza, não apenas pela maior escolarização e concentração de transportes e comércio. Também, por causa de tudo isto, mas não apenas. Na cidade, a identidade individual já não é tanto marcada pela familia ou pela classe social. A construção da identidade num contexto em que a sociedade do velho regime começa a dar lugar a um outro tipo de sociedade, em que as raízes e os ritos rurais se diluem numa urbanidade nova, assume-se como uma construção intelectual em que a cultura do livro e da leitura é um elemento decisivo. A palavra impressa é a fala da burguesia, o lugar de consolidação dos valores e do discurso da nova classe dominante, a que se tem acesso por meio de uma leitura pessoal e silenciosa. A autonomia individual vai emergindo como valor edificador da cidade. A novela romântica, o jornal, o folhetim são expressão dessa emergência. O impresso que circula pela cidade é a voz dessa cidade.
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