terça-feira, abril 05, 2005

Reflexão 1 (J.-L. Nancy)

«Quer o queiramos quer não, há corpos que se tocam sobre esta página, ou melhor, ela própria é o contacto (da minha mão que escreve, das tuas que seguram o livro). Este tocar é infinitamente desviado, diferido - máquinas, transportes, fotocópias, olhos, outras mãos que se interpuseram ainda -, mas resta o ínfimo grão obstinado, ténue, a poeira infinitesimal de um contacto que por toda a parte se interrompe e por toda a parte se retoma. E no final, o teu olhar toca nos mesmos traçados de caracteres em que o meu toca agora, e tu lês-me, e eu escrevo-te.»
Nancy, Jean-Luc. Corpus. Lisboa, Vega, 2000, p. 51